Giramundo apresenta “O Pirotécnico Zacarias” no CCBB Rio
Bonecos, atores e projeções encenam contos do mineiro Murilo Rubião, um dos pioneiros da literatura fantástica no Brasil
Espetáculo traz inovações como ator em cena, máscaras, objetos e vídeo animações misturando linguagens do cinema e do teatro
Cinco contos, incluindo o homônimo do escritor mineiro Murilo Rubião (1916 – 1991), servem de inspiração para o espetáculo “O Pirotécnico Zacarias”, que o grupo Giramundo apresenta no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil entre 22 de agosto a 16 de setembro. Inédita no Rio, a montagem é resultado de uma nova vertente de trabalho da trupe mineira, que experimenta a combinação de diferentes linguagens, como cinema, animação, música, dança, máscaras, artes plásticas e teatro de objetos. No palco, bonecos contracenam com atores e vídeos adaptando os contos do autor considerado um dos mais significativos da literatura fantástica no Brasil numa espécie de “nova ópera”, caracterizada pelo hibridismo midiático.
Desde o início dos anos 2000, o Giramundo tem norteado sua produção para a experimentação com outras mídias, principalmente para as possibilidades de interação de bonecos e atores com vídeos e animações. Com “O Pirotécnico Zacarias”, o grupo foi além. “Trouxemos o cinema como um processo duplo, tanto de planejamento quanto de produção, seguindo metodologia usada frequentemente criação de filmes, como a roteirização, a organização de cenas, mas ao mesmo tempo incorporando as características cinematográficas para uma linguagem teatral”, explica o diretor Marcos Malafaia. “É um campo cênico híbrido, que corresponde a uma curiosidade sobre novos cenários de criação, abertos pela sobrecarga e multiplicidade de meios de expressão do mundo contemporâneo”, completa.
Apesar de trazer uma experimentação no campo da linguagem e na construção de cena, a peça mantém o rigor metodológico e a atenção estética adotados pela companhia desde a década de 70. A dramaturgia foi construída a partir da costura dos contos “O Pirotécnico Zacarias”, “O Ex-Mágico da Taberna Minhota”, “Teleco, o Coelhinho”, “O Bloqueio”, “Os Comensais”, todos interligados pela figura central de Zacarias, protagonista do espetáculo. Uma fábula sobre o homem contemporâneo, um herói Muriliano que, mesmo sendo mágico, é incapaz de mudar a realidade, ou mesmo de compreender sua posição nela.
“O trabalho de Murilo Rubião é surpreendentemente contemporâneo e importantíssimo para cultura brasileira, apesar de não ser tão conhecido do público. Sua obra nos permite trabalhar com uma espécie de surrealismo, uma realidade ao mesmo tempo absurda e fantástica”, conta Malafaia. “À medida que realizamos a adaptação e experimentações para construção do espetáculo, percebemos que havia muitas recorrências e elos entre os contos, que existia um personagem central muito estável, rodeado por instabilidade de todos os lados. Então procuramos reforçar essa estrutura oculta dos contos e percebemos que possuíam um potencial imagético e poético, um tanto quanto filosófico ou psicanalítico, que poderia ser abordado por um viés cinematográfico. Por isso, enxergamos não só a necessidade, mas também a importância em trazer vida à obra de Rubião”, finaliza.
“O Pirotécnico Zacarias” estreou nacionalmente no CCBB Belo Horizonte em março deste ano e, entre abril e junho, foi encenado no CCBB São Paulo. Depois da temporada carioca, o espetáculo seguirá para unidade Brasília do Centro Cultural. Serão, ao todo, 107 apresentações da montagem, a maior turnê da história do grupo Giramundo desde a sua fundação, em 1970.
SOBRE MURILO RUBIÃO
Murilo Rubião é considerado um escritor muito misterioso. Apesar de sua importância para a literatura brasileira ser unânime atualmente, e de seus temas e recursos literários, serem conhecidos e descritos, ainda restam nebulosas as circunstâncias do surgimento de autor e de obras tão autônomas e originais. Por conta disso, foi considerado um mestre em fazer o absurdo penetrar na realidade cotidiana.
Admirador de Machado de Assis, apreciador de contos de fadas e fábulas, estudioso da literatura fantástica europeia, da mitologia grega e da Bíblia, o autor inicia sua produção no início dos anos 40 e publica seu primeiro conto em 1947, sendo acolhido de modo discreto pela crítica. Desarticulado dos movimentos literários brasileiros e da produção latino americana do “realismo fantástico” ou “realismo mágico”, Rubião antecede Borges, Cortázar e Gabriel Garcia Marquez, urdindo uma obra suspensa, desprendida de seu contexto e descolada de tradições estilísticas. Perfeccionista, preferiu reescrever seus textos à exaustão a publicar uma obra extensa. Assim, ao longo de toda a sua vida, selecionou apenas 33 contos para serem lançados em livros.
Quando questionado sobre a escolha de Rubião, o diretor Marcos Malafaia destaca: “Tudo começa da relação do Álvaro (Apocalypse, fundador do Giramundo) com o próprio Murilo no Suplemento Literário (criado pelo escritor em 1966). Álvaro ilustrou muito o Suplemento. Já a Madu Vivacqua (outra das fundadoras do grupo) foi uma espécie de secretária eventual dele”. Ele ainda acrescenta que, durante o período em que editou a extinta revista Graffiti 76% quadrinhos, Rubião serviu de fonte. “A obra dele é muito imagética. Para nós, era o Cortázar brasileiro.”
SOBRE O GRUPO GIRAMUNDO
O Giramundo foi criado em 1970, pelos artistas plásticos Álvaro Apocalypse, Tereza Veloso e Madu. O grupo montou 34 espetáculos teatrais, construindo acervo próximo de 1.500 bonecos e objetos de cena. Suas montagens experimentaram o boneco em múltiplas formas, criando um variado panorama técnico e expressivo do teatro de bonecos. Nos anos 70 e 80, a formação acadêmica e artística de seus fundadores imprimiu no grupo o rigor metodológico e atenção estética no planejamento de seus bonecos e espetáculos. Estas características, unidas ao interesse pela cultura brasileira, trouxeram reconhecimento nacional ao Giramundo, garantindo seu lugar na história do Teatro Brasileiro por sua ação transformadora de incorporação de formas e temas adultos, dialogando com questões formais, plásticas e políticas complexas.
Durante os anos 2000, o Giramundo conquistou sua sede própria, base para seu Museu, Escola e Estúdio de Animação. Neste período o grupo concentrou sua atenção na produção de animações e conteúdo digital e na comunicação através da internet. Mais recentemente, iniciou a produção e comercialização de livros, vídeos e brinquedos incorporando o pensamento industrial ao seu modelo de sustentabilidade institucional.
Hoje, o Giramundo se transforma: a ideia de grupo de teatro, que orientou suas atividades durante 30 anos, cede espaço para um núcleo multimídia, experimentador de uma cena de animação variada, onde convivem bonecos reais e suas versões digitais. Essa mistura do teatro de bonecos, vídeo, animação, música, dança e artes plásticas parece ser o território do Giramundo do Século XXI.
“Giramundo é um perseguidor. Sempre em busca do inatingível: a receita do boneco nunca construído, a montagem improvável, a cena surpresa, a metodologia da máxima performance. Essa inquietude não tem fim, só começo. O grupo nasceu com ela e a sustenta viva, em brasa, no sopro do entusiasmo de seus membros, geração após geração, ativos na faina de tarefas irrealizáveis. Assim, o Giramundo nos deixa marcas, escreve e se inscreve em nós, como tatuagem, como palimpsesto, como gravura policrômica. E com este espetáculo reforçamos todas essas características que fazem parte do DNA do grupo”, encerra Marcos Malafaia.
CCBB 30 ANOS
Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio de Janeiro entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial.
6 – Centro) – Teatro II
Informações: (21) 3808-2020.
Capacidade: 116 lugares. Recomendação etária: 14 anos.
Duração: 70 minutos.
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
bb.com.br/cultura | twitter.com/ccbb_rj | facebook.com/ccbb.rj
SAC 0800 729 0722 – Ouvidoria BB 0800 729 5678
Deficientes Auditivos ou de Fala 0800 729 0088
FICHA TÉCNICA:
Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Ministério da Cidadania e Centro Cultural Banco do Brasil
Direção geral e roteiro adaptado: Marcos Malafaia
Assistência de direção: André Martins
Coordenação de produção: Carluccia Carrazza
Direção de atores: Epaminondas Reis
Atores marionetistas: Antônio Rodrigues, Beto Militani, Camila Polatscheck e Fabíola Rosa
Trilha sonora: Gabriel Guedes, Max Lehmann e Andre Martins
Coordenação oficina Giramundo: Daniel Bowie
Coordenação ateliê Giramundo: Endira Drumond
coordenação financeira de projeto: Alcione Rezende, Sinergia
Composição coreográfica: Cristiano Reis e Luiza Alvarenga
Treinamento de manipulação: Beatriz Apocalypse
Preparação física marionetistas: Luis Malafaia
Fotografia: Elmo Alves e Lorena Zschaber
Cenografia: Marcos Malafaia e Daniel Bowie
Oficina cenográfica: Glauber Apicela, Daniel Bowie, Igor Ribeiro e Rafael Borges
Luminotécnica digital: Bruno Cerezoli e Tom Alonso
Design de iluminação: Marcos Malafaia e Rodrigo Cordeiro
Consultoria projeção mapeada: Allerson Soares e Guilherme Pedreiro
Construção de bonecos: Daniel Bowie, Endira Drumond, Fernanda Paredes, Gabriel Drumond, Iara Drumond e Israel Silva
Workshop máscaras: Juliana Pautilla
Modelagem máscaras: Aurora Majnoni
Confecção máscaras: Israel Silva
Pintura máscaras: Marcos Malafaia
Recortes em papel: KK Bicalho
Oratório: Flávia Henriques
Colagista: Samuel Eller
Assessoria de comunicação: A Dupla Informação
Assessoria de imprensa local: Catharina Rocha – Máquina de Escrever
Masterização: Lucas Mortimer
Cantoras: Laura Catarina, Mariana Cavanellas e Coral Sampaio
Vozes: André Martins, Antônio Alonso, Antônio Rodrigues, Epaminondas Reis, Isabella Michelline, Lis Malafaia, Marcos Malafaia, Mário Apocalypse e Ulisses Tavares
Animação e design gráfico: Caio Lourenço
Cenotécnica: Rodrigo Cordeiro, Alexandre Figueiredo e Alexandre Galvão
Supervisão de material cênico: Raimundo Bento
Estúdios de som: Lucas Mortimer e Thiago Braga
Estúdio fotográfico: Câmera Lúcida
Textos do programa: Marcos Malafaia
Núcleo audiovisual
Direção geral: Daniel Ferreira
Montagem timeline: Andre Martins, Zenner Henriques, Gabriel Navarro e Daniel Ferreira
Assistentes de roteiro: Ana Siqueira, Daniel Ferreira, Tom Alonso, Daniel Bowie e André Martins
Animação: Ulisses Tavares, Zenner Henriques e Tom Alonso
Tratamento de imagens: Tom Alonso
Equipe Café Pingado
Direção: Daniel Ferreira
Produção: Ana Siqueira
Assistentes de direção: José Ricardo Miranda Jr. e Ana Siqueira
Assistência de produção: Élida Ramirez e Bea França
Estudos em cinema: José Ricardo Miranda Jr.
Direção de fotografia: Rick Mello e Diogo Lisboa
Assistente fotografia / Logger: Marco Antônio Gonçalves Jr.
Direção de arte / Figurino (SET): Dan Lemos
Maquinária: Rodrigo Machado “Barcelona”
Maquinária / Contrarregra: Guilherme “Gnomo”
Motorista de set: Jacques Marçal
Equipamento de câmera: Bil’s Cinema e Vídeo
Equipamento de luz e estúdio: Flare
Núcleo moda
Figurino: Fernanda Fantagussi e Marcos Malafaia
Produção de moda: Carina Fonseca
Alfaiataria: Sérvulo Felipe
Adereços: Carlos Penna
Calçados: Nuu Shoes
Moletons: Molett
Bolsas e mochilas: Fantagussi
Estagiários Fumec:
Modelagem 3D: Rafael Borges
Comunicação web: Marina Kemp
Design gráfico: Felipe Mayer
Fotografia: Mariana Arnoni
Agradecimentos: Sílvia Rubião, Grupo Corpo, Breno Pessoa, João Vitor Rocha, Célio Ramos, Tamira Abreu, Astréia Soares e MIS BH
Parceiros: Café Pingado Filmes, Sinergia Gestão de Projetos Culturas, A Dupla Informação, Calu, Carlos Penna, Fantagussi, Molett, Casa Meva Decor, Gráfica Lutador, On Projeções, Quarteto Filmes e Universidade Fumec.